segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pré- Modernismo - Lima Barreto - O Triste fim de Policarpo Quaresma !

Pré-Modernismo

Pré-Modernismo é o período de transição que ocorre nas primeiras décadas do século XX.De um lado encontram-se as tendências Simbolistas e Parnasianistas, da metade do século XIX e de outro as características regionalistas e políticas que levariam a renovação modernista.
O pré-modernismo não foi uma ação organizada nem um movimento e por isso deve ser encarado como fase.
O Pré-Modernismo tem início em 1902 com a publicação do livro Os Sertões- de Euclides da Cunha e se estende até 1922 com a realização da Semana da arte Moderna.
O Brasil vivia um período de estabilização do Regime republicano e a chamada “ Política do café com leite ”, nesse período o país recebeu grande massa de imigrantes italianos para trabalhar na lavoura de café e na indústria, estes, trouxeram consigo, ideais anarquistas e socialistas, que ocasionaram o aparecimento de greves e formação de sindicatos.
O período, do ponto de vista cultural, foi marcado pela convivência de várias tendências artísticas e novas ideologias, é o que o caracteriza como Pré-Modernismo.


As novidades

•  Havia maior interesse pela realidade dos brasileiros, diferente dos Realistas e  Naturalistas, dos Parnasianos e Simbolistas, que buscavam retratar o homem universal, sua condição e seus anseios, aos Pré-Modernistas interessava assuntos do dia-a-dia e suas obras tinham nítido caráter social. Lima Barreto, por exemplo, retrata a população suburbana do Rio de Janeiro.
• Busca de uma linguagem mais simples e coloquial. Essa preocupação, embora não característica a todos os Pré-Modernistas, é  explícita na prosa de Lima Barreto. Este procurou “escrever brasileiro”, com simplicidade. O que representou um importante passo para a renovação modernista de 1922.


Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto, escritor e um grande jornalista carioca,  filho de João Henrique de Lima Barreto (mulato nascido escravo) e de Amália Augusta (filha de escrava),nascendo também mulato como o pai,  nasceu no Rio de Janeiro no dia 13 de maio de 1881 e morreu também na mesma cidade no dia 1º de novembro de 1922. Filho de um tipógrafo da Imprensa Nacional e de uma professora pública, era mestiço de nascença e foi iniciado nos estudos pela própria mãe, que perdeu aos 7 anos de idade.


Algumas de suas obras:

- O Subterrâneo do Morro do Castelo (1905)
- Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909)
- O Homem que Sabia Javanês
- Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915)
- Vida e Morte de M.J Gonzaga de Sá (1919)
- História e Sonhos (1920)
- Os bruzundangas (1923)
- Claro dos Anjos (1948)
- Contos Argelinos
- O cemitério dos vivos (1953)


Sua obra mais conhecida foi,  Triste Fim de Policarpo Quaresma, que fala de um major, que mora no Rio de Janeiro, extremamente patriota, fiel e adorador de seu país.



 Triste Fim de Policarpo Quaresma

Este romance é de grande contribuição de Lima Barreto para a literatura brasileira. Nele o autor representa os anos conturbados da 1ª República, com movimentos militares, revoltas e perseguições.
A Figura central da obra é o major reformado Policarpo Quaresma, um nacionalista fanático que, vivendo fechado em seu gabinete, cercado de muitos livros, acaba fazendo do Brasil uma imagem totalmente equivocada.Patriota estremado, sonha em poder resolver os problemas do país por meio da agricultura, mas, ao trabalhar no campo acaba entendendo que as terras não são tão férteis como diziam os índios. Ele propõe a valorização de nossos costumes, censurando a imitação das moedas estrangeiras, mas não encontra receptividade da parte de ninguém.
Seu patriotismo o leva ao campo militar, incorporando-se voluntariamente ás tropas de Marechal Floriano Peixoto por ocasião da Revolta Armada.Mas tem nova desilusão: O Marechal não é o chefe que idealizara e seu destino é selado quando, após presenciar a escolha arbitrária de prisioneiros a serem executados, ele escreve uma carta a Floriano Peixoto denunciando a crueldade da repressão aos adversários. Assim devido a suas criticas, ele é preso e condenado ao fuzilamento pela ordem do próprio presidente, que tinha como argumento a traição de Quaresma, que era seu ídolo.
No trecho a seguir, retirado do livro, apresenta a forma com que Quaresma descreveu Marechal Floriano Peixoto e seu governo.
“Quaresma pôde então ver melhor a fisionionomia do homem que ia enfeixar em suas mãos, durante quase um ano, tão fortes poderes de Imperador Romano, pairando sobre tudo, limitando tudo, sem encontrar obstáculos algum ao seus caprichos, ás suas fraquezas e vontades, nem nas leis, nem nos costumes, nem na piedade universal e humana.
Era vulgar e desoladora. O bigode caído; o lábio inferior pendente e mole a que se agarrava uma grande “mosca”, os traços flácidos e grosseiros; não havia nem o desenho do queixo ou olhar que fosse próprio, que revelasse algum dote superior. Era um olhar mortiço, redondo, pobre de expressões, a não ser da tristeza que não lhe era individual, mas nativa, de raça; todo ele era gelatinoso – parecia não ter nervos.
Não quis o major ver em tais sinais nada que lhe denotasse o caráter, a inteligência e o temperamento. Essas coisas não vogam, disse ele de si para si.
O seu entusiasmo por aquele ídolo político era forte, sincero e desinteressado. Tinha-o na conta de enérgico, de fino e supervidente, tenaz e conhecedor das necessidades do país, manhoso um pouco, uma espécie de Luís XI forrado de um Bismarck. Entretanto, não era assim. Com uma ausência total de qualidades intelectuais, havia no caráter do Marechal Floriano uma qualidade predominante: tibieza de ânimo, e no seu temperamento, muita preguiça. Não preguiça comum, essa preguiça de nós todos; era uma preguiça mórbida, como que uma pobreza de irrigação nervosa, provinda de uma insuficiente quantidade de fluido no seu organismo. Pelos lugares que passou, tornou-se notável pela indolência de desamor ás obrigações de seu cargo.”

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